"Alguém poderia dizer que resta a internet e o Twitter, como se o socorro pudesse vir sozinho do milagre eletrônico"
As pessoas estão se perguntando, diante dos escândalos no Senado: “Por que o povo não sai às ruas?”.
Além da indagação, exalam a autocrítica desalentada: “O povo brasileiro é muito passivo”. A isso seguem-se frases de impotência e ceticismo quanto aos políticos em geral.
A situação torna-se ainda mais incômoda quando essas mesmas pessoas se lembram dos caras pintadas, que, há quase 20 anos, saíram às ruas para depor Collor. Olham para o passado recente e não conseguem entender por que hoje o povo não se rebela, por que a história não se repete.
Os cientistas políticos deveriam/poderiam explicar isso. Sem ser cientista, parece-me que, para entender esse impasse, temos que convir no seguinte:
1. É uma ilusão pensar que o “povo” espontaneamente sai às ruas para protestar e exigir reformas;
2. Os movimentos sociais dessa natureza exigem duas coisas complementares: liderança e militantes. Esse tipo de atuação tem algo de fanatismo, de evangélico, de messianismo misturado ao sonho e à utopia;
3. Sem liderança e militantes que articulem manifestações, as insatisfações flutuam sem direção. A imprensa pode alardear o que quiser, mas o pasmo ficará como uma bolha que se esvai no ar.
Cadê, então, as lideranças e a militância? Onde estão? Quem são aqueles que deveriam e poderiam ser líderes? Há que cruamente considerar os seguintes fatos:
4. Até pouco tempo, grupos militares, religiosos e facções políticas tradicionalmente fizeram esse trabalho de militância. Hoje, no entanto, no quadro brasileiro, não há nenhum partido ou organização capaz de exercer esse papel. Se não, vejamos:
5. Os militares brasileiros, que organizaram as manifestações populares que desembocaram em 1964, estão de quarentena e desgastados politicamente;
6. As organizações religiosas que lutaram contra a tortura e a ditadura hoje não têm nem a penetração nem a liderança que tinham há décadas;
7. Os partidos de esquerda, como PT, PC, PCdo B e PSB, chegaram ao poder e se distanciaram das ruas, tornando-se fisiológicos, seus militantes renderam-se ao lado afrodisíaco do poder; o PSDB e o DEM não têm militância para isso e o PSOL não tem capilaridade para movimentos de rua como tinha o falecido PT, que está cometendo em público uma série de "harakiris"
8. A OAB, que teve papel importante na luta contra a ditadura por meio de Raymundo Faoro, não tem voz que se faça ouvir a nível nacional;
9. Os partidos de centro-direita têm um discurso frouxo e tendem para a inércia, para os acordos, e só aglutinam os subordinados para interesses próprios;
10. Os estudantes, que seriam a reserva disponível, não podem ser mobilizados porque a UNE caiu numa armadilha: perdeu a independência, recebe dinheiro do governo, está com a consciência paralisada ou adormecida.
Essa situação é motivo de júbilo para alguns políticos da situação, que esfregam descaradamente na cara dos caras pintadas ou não pintadas o fato de que se lixam para a opinião pública e de que tal opinião é “volúvel”. Estão tripudiando porque sabem que falta o elo, a argamassa da liderança e militância popular capaz de estremecer o poder. Militância e liderança que são fruto do trabalho alucinado de alguns missionários, revolucionários que queimam suas vidas atuando 24 horas para que seus sonhos e alucinações aconteçam.
Diante desse quatro, assinale-se que a cultura chamada pós-moderna incentiva cada vez mais a fragmentação da consciência. Alguém poderia esperançosamente dizer que resta a internet e o Twitter, como se o socorro pudesse vir sozinho do milagre eletrônico. Mas, convenhamos, até mesmo a internet e o Twitter só funcionam política e socialmente se indivíduos fisicamente presentes e reconhecíveis assumirem o risco da liderança e romperem a crosta do pasmo e da desilusão.
Affonso Romano de Sant'Anna
sexta-feira, agosto 28, 2009
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3 comentários:
Mascate :tem mais uma coisa que eu sei .Um amigo meu aqui de São paulo foi ao interior de Pernambuco visitar o pai e os dois irmãos , e descobriu que em quase todas as famílias de sua cidade ,as pessoas tem bolsa família .Seus irmãos tem para sí e para cada filho,e, então abandonaram a roça ,passando o dia na cidade jogando bilhar ,porque não precisam mais plantar para comer .Essas pessoas nunca reagirão contra um governo uqe as mantem alimentadas sem que precisem se mexer.Abraços
Tenho uma grande amiga que os familiares tem plantações de cacau e outros na bahia, eles estão perdendo parte da colheita por falta de mão de obra para fazer o trabalho.
nquanto o DESgoverno continuar dando comida na boca esse povo vai viver coçando o saco e votando apenas para manter o privilégio de não ter que trabalhar para viver.
ESCREVA O QUE VOU DIZER: Quando começar a campanha eleitoral a PTralhada vai colocar no ar propagandas alegando que se o candidato "tal" vencer as eleições ele vai acabar com as bolsas.
É esperar para ver.
O brasileiro é um povo engraçado ou burro, que faz de tudo quando o seu time perde um jogo de futebol, mas parece que não enxerga que está sendo roubado pelos seus¨representantes?¨ Até quando vai isso???
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