* Democracia neste país é relativa, mas a corrupção é absoluta *

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QUANDO A POLITICA INTERFERE NA JUSTIÇA NADA MAIS FAZ SENTIDO

domingo, dezembro 14, 2008

Para refletir. (" Pensar", para os iletrados.)

Lya Luft -
Vai piorar.


Escritores devem escrever, palestrantes devem falar. Qualquer pessoa tem a obrigação de pensar e o direito de se expressar. Claro que isso não acontece num país de analfabetos, onde não se tem interesse em que o povo pense: um povo informado escolheria outros líderes, não ficaria calado quando pisoteiam sua honra, expulsaria de seus cargos os pseudolíderes e tentaria recompor as instituições aviltadas. Mas nós não fazemos nada disso: parecemos analfabetos e afásicos, uma manada de bobos assistindo às loucuras que se cometem contra nós, contra cada um de nós. E eu, que tenho as duas atividades, escrever e eventualmente falar, que desde criança fui ensinada que cabeça não foi feita só para separar orelhas, mas para pensar, questionar - e também para se feliz -, neste momento, não sei o que pensar. Muito menos o que responder quando me perguntam interminavelmente o que estou achando, como estou me sentindo. Não em minha vida pessoal, mas em relação a este país. Ou melhor: a seus governantes, autoridades, homens públicos, políticos. Mal consigo acreditar no que está se passando. A cada dia um espanto, a cada dia uma decepção, a cada dia um desânimo e uma indignação. Este já foi o país dos trouxas, que pagam impostos altíssimos e quase nada recebem em troca; o país dos bobos, que não distinguem um homem honrado dum patife, uma ação pelo bem geral de uma manobra para encher o bolso ou galgar mais um degrauzinho no poder a qualquer custo; o país dos mistérios, onde quem é responsável absoluto não sabe de nada, ou finge enxergar outra realidade, não a nossa. Hoje, estamos ameaçados de ser o país dos sem-vergonha. A falta de pudor e o cinismo imperam e não há, exceto talvez o Supremo Tribunal, lugar totalmente confiável. Entre os políticos, com cargos ou não, impera um corporativismo repulsivo - ou estaremos todos de rabinho preso? Nós, povo que se deixa enganar tão facilmente, que pouco se informa e questiona, vamos nos tornando da mesma laia? Seremos também, concreta ou moralmente, vendidos? Quando eu era menina de colégio, às vezes os rapazes se insultavam gritando "vendido!", não me lembro bem por quê. deviam ser questões esportivas. Um ponto não marcado, um gol roubado. Era grave insulto. Hoje, parece que ninguém mais liga para insultos, leves ou pesados - nada pega, tudo é água em pena de pato, escorre e acabou-se. Um povo teflon. Vemos líderes vendendo-se em troca de comodidade, cargo, poder, dinheiro, impunidade, preservação de algum sórdido segredo, ou simplesmente a covardia protegida. Quem nos deve representar sumiu no ralo. Quem nos deve orientar se transformou em mamulengo. Quem nos deve servir de modelo chafurda na lama. E nós, povo brasileiro, nos arrastamos na tristeza. Reagimos? Como reagimos? Pintamos a cara e saímos às ruas aos milhares, aos milhões, jogamos ovos podres, paramos o país, pacificamente que seja, tentamos mudar o giro da máquina apodrecida? Aqui e ali um tímido protesto, nada mais. De algum lugar surgiram os senadores que votam às escondidas porque não têm honra suficiente para enfrentar quem os elegeu; os deputados pouco confiáveis, alguns duvidosos ministros, de onde surgiram? De nós. Nós os colocamos lá, nós votamos, nós permitimos que lá estejam e continuem - nós, através das mãos dos ditos representantes, instituímos a vergonha nacional que em muitas décadas será lembrada como um tempo de opróbrio. E não argumentem que a economia está ótima: ainda que esteja, digo que me interessa muito menos a economia do que a honra e a confiança, poder ser brasileiro de cabeça erguida. Existe o Bolsa Família, a miséria está um pouco menos miserável? Pode ser. Mas os hospitais continuam pobres e podres, as escolas e universidades carentes, as estradas intransitáveis, a autoridade confusa e as instituições esfaceladas, os horizontes reduzidos. O Senado terminou de ruir? Querem até acabar com ele? Pode parecer neste momento que ele não faz muita falta, mas sua ausência seria um passo para o Executivo ditatorial, a falência total da ordem e a perda de um precário equilíbrio. Com pressentimentos nada bons, faço - embora sem grande esperança - uma conclamação: tolerância zero com tudo o que nos desmoraliza e humilha, perseguição implacável ao cinismo, mudança total nas futuras eleições, faxina no Congresso, Senado e Câmaras, renovação positiva no país. Conscientização urgente, pois, acreditem, do jeito que vai a coisa tende a piorar.

(publicado na coluna Ponto de Vista, pag. 20, revista Veja, 26/09/2007, edição 2.027)

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5 comentários:

Anônimo disse...

Fernando, um ano já passou depois deste texto da Lya, e o que causa espento é que as coisas só pioraram, todos continuam caminhando em direção ao brejo, o povo está adormecido, alguns contentes com uma ou outra bolsa miséria, e outros com a "fartura" do crédito fácil, gastando feito loucos.
A ética foi definitivamente para o ralo, o STF deveria ser fechado, já que seus julgamentos invariavelmente são favoráveis aos donos do poder.
Não temos Justiça, pois ela está prostituída, não temos segurança, já que as instituições que deveriam nos proteger estão sucateadas e a corrupção manda, e não temos vontade, o povo brasileiro só quer saber de bandalheira. Até quando este país vai aguentar tantos desmandos antes de ruir definitivamente e entar em um estado de sítio?
Temo pela nossa liberdade.

Pan disse...

É meu amigo...o povo virou índio novamente...e aqueles q ainda resistem estão à beira do precipício sem saber o q fazer...
Quando a impunidade impera num pais onde a justiça só pune as vítimas,fica muito dificil falar em honra,palavra,caráter,igualdade...
Infelizmente é a ladeira abaixo e o povo está bem perto de se espatifar no buraco!Quem sabe depois disso acorda e reage!Nós todos somos responsáveis por essa falta de organização pra dizer NÂO à bandalheira!
Bjs

Leo Pinheiro disse...

Os que clamam pela censura, seja de expressão, de poderes ou direito, parecem que desconhecem a recente ditadura.

Porém, entendo que o texto tem muitas figuras de linguagem. è uma tentativa válida, mas que se perdeu em seu manequeísmo.

Em síntese acho isso.

Anônimo disse...

Como será que ela completaria esse texto após ter passado mais um ano?
Iletrados ou não, o que falta neste país é sair deste coma cívico, as pessoas, em sua maioria, se tornaram cordeiros e acomodados.
Essa submissão é vergonhosa.

Anônimo disse...

Eu assistia ao jornal pela manhã, e pensava; centenas de pessoas acampadas durante dias diante do estádio onde a Madonna vai se apresentar..
Enquanto a reportagem passava eu me indignava, esses jovens e alguns não tão jovens tem a capacidade de se mobilizar e permanecerem acampados por até dez dias em frente ao estádio para "pegar" um lugar melhor no show.
O que leva uma pessoa parar a vida durante dias apenas para ver uma cantora, são dez dias em troca de algumas poucas horas.
Pq esse povo que é capaz de tanto sacrifício por um espetáculo, é incapaz de se mobilizar e cobrar uma melhor saúde ou educação?
Mas quando uma filaé para votar, ou para fazer inscrição de concurso, ou mesmo para ser atendido em um hospital passa pouco de algumas horas esse mesmo povo começa a ficar indignado, faz protestos, xinga, e agride, pq um comportamento tão diferente?
Diante disso e do texto da LYA concluo que o Brasileiro só quer saber de bandalheira e bagunça, não liga em ser tratado como gado quando é uma POP STAR, mas reclama da falta de atenção dos serviços públicos quando precisa deles.
Na minha opinião, esse povo tem mais é que se fuder de verdade, a classe política é apenas o reflexo desse povo, então vamos reclamar de que?
Cada povo tem o governo que merece.