Luiz Felipe Pondé
Guarani Kaiowá de boutique
As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos
sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é
"assinar" sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer defesa de um modo
de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental. As
redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não
se "extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da
floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga
esses descontos somos nós. Pintar-se como índios e postar no Face devia
ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais.
Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que
devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio,
contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia
equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação
ética. Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de
ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais
(reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem
só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral
seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.
Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o
mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece
simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres
humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se
juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O
ridículo é uma das caras da democracia.
O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio "Discurso Inaugural", parte
da coletânea "Menos que Um" (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus
sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a
humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus
sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do
ridículo. A mediocridade só anda em bando. Este fenômeno dos "índios de
Perdizes" é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa
mediocridade.
Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre
elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do
ridículo na sua forma mais obscena. O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome" no Facebook?
Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do
ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns
como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento
global, esta pseudo-óbvia ciência?
Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios do Rousseau e seu
bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em mil anos.
Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a
humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos
que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às
custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os
aborígenes seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um
"conceito"? Um "mito", sua releitura de Adão e Eva.
Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu
"sobrenome" no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles
querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de
algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para
emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.
Elas não entendem que índios são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou
claro que alguns continuam pobres e miseráveis enquanto outros
conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem meter a
mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um
"passaporte" da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais iPad e
Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar
mal da "opressão social".
Minha proposta é a de que todos que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos da floresta.
E PHOD@-SE!!!
.......................................................................