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quarta-feira, setembro 07, 2011

Carta aberta às autoridades

Senhores políticos,
Teoricamente vivemos numa democracia representativa, de fato, eleições não fazem uma democracia, a partir do momento vossas excelências não nos representam de fato, salvo raríssimas exceções.
Teoricamente vivemos num sistema republicano presidencialista, mas uma república faz-se com liberdade, igualdade e fraternidade de fato e não apenas no papel. A partir do momento em que vossas excelências elevam-se ao patamar de uma classe privilegiada, a igualdade deixa de existir; se colocam os interesses particulares, corporativistas e partidários acima dos interesses públicos, a fraternidade torna-se apenas um conceito; quando vossas excelências ao menos ventilam a possibilidade de selecionar as informações que devem ser veiculados pelos órgãos de comunicação de massa, limitar o uso de internet pelos cidadãos, a liberdade fica ferida.
Não contem, excelências com a ignorância coletiva e o esquecimento dos eleitores brasileiros. A cada dia cresce o número de cidadãos desgostosos com os rumos dados ao país, matando-se a idéia de pátria, condenando as classes privadas de poder aquisitivo e poder do conhecimento, condenando populações inteiras à ignorância pela péssima qualidade de nossas escolas públicas, matando-se milhares por ano pela falta de equipamentos, profissionais e boa vontade dos nossos agentes de saúde. Este desgosto coloca a classe política no front de uma batalha social que prepara-se aos poucos, paulatina e lentamente. Não subestimem nossa capacidade de união, organização e poder de reivindicações.
Não os ameaço, excelências, apenas os alerto. Não estranhem se um dia as praças encherem-se de brasileiros desgastados em sua dignidade e paciência e não adianta, insisto, em arrumar ferramentas ilegais para nos calar. Saiam às ruas sem seus cabos eleitorais e não tardarão a perceber que a panela de pressão está aquecida e cada brasileiro tem muitas reclamações sobre suas atuações. Não se surpreendam se vossas excelências passarem a receber dedos na cara daqueles a quem sempre trataram apenas como mais um voto na urna eletrônica.
Mudem suas práticas, respeitem àqueles que pagam extorsivos impostos desejando apenas serem tratados como homens, mulheres, jovens e crianças que merecem receber em troca de seu suado dinheiro depositado nos cofres do Estado serviços de qualidade e respeito das instituições.
Não continuem tratando a segurança pública como uma ferramenta eleitoreira. Ao permitirem que o banditismo, seja do ladrão de galinhas, seja do ladrão do erário, cresça com punições amenas, quando elas ocorrem, estão mandando a mensagem que ser bandido vale a pena, que nada ocorrerá a quem desrespeitar a lei e este desrespeito pode bater às suas portas pelas mãos e pela insatisfação daqueles que hoje se sentem agredidos pela sua inépcia.
Parem um pouco de olhar apenas para as caras dissimuladas de seus líderes e olhem nos olhos de seus patrões: o povo que lhes paga os salários, as mordomias, as benesses, as viagens de primeira classe, as diárias em viagens internacionais, os hotéis cinco estrelas, os carros luxuosos, os jantares nababescos, as moradias gratuitas e confortáveis, os planos de saúde ilimitados e extensivos às suas famílias. Na surdina, pelos becos, nos bares ou nas portas da peixaria, já se fala que todos merecemos isso. A tal igualdade de que fala a Constituição Federal, aquela mesma Carta Magna que nossos dirigentes, vossas excelências, desrespeitam como se mandassem cada patrício calar-se e resignar-se.
Respeitem-nos, excelências, antes que percamos de vez o respeito por vossas excelências. Respeitem esta pátria rica que empobrece diante de tanto desvio de verbas, leis casuísticas, desvios de verbas, de princípios éticos e morais, dos furtos impunes à coisa pública.
Somos pacíficos, mas estamos perdendo nossa paciência o que pode nos levar a perder a passividade e cabe aos senhores evitarem traumas sociais. Não a oposição armada que nossos mandatários pregaram um dia e que hoje acham antidemocrática, mas antes da terra assentar-se, excelências, há o terremoto. Este abalo cabe a vossas excelências evitarem.
Não somos poucos e nosso número aumenta na mesma proporção que cresce nossa indignação.
Se de fato vossas excelências nos representam, algo em que não cremos mais, façam de suas atividades aquilo que esperamos que façam: justiça social, segurança jurídica, responsabilidade, eficiência, bom senso, honestidade. Tudo em nome do bem comum e não dos bens seus e dos seus.
Não se acovardem, excelências, mostrem que são homens e mulheres com algum resquício de consciência e levem este nosso sofrido Brasil ao rumo seguro do crescimento calcado na qualidade dos serviços públicos; ressuscitem os princípios republicanos de fato, além do discurso fácil e ensaiado; pensem na honra de seus filhos que devem sofrer por verem seus pais acusados de bandidos na escola, no clube, na lanchonete, dêem-lhe motivos para orgulharem-se de vossas excelências; esforcem-se para entrarem na história como aqueles que colocaram o país na linha e não como coniventes com os bandidos que pouco ligam para os rumos da nação, antes vêem seus egos, seus bolsos e o enriquecimento sub-reptícios dos seus pares.
Estamos vivos, excelências, e inchando de raiva e indignação, mas não precisam temer, desde que não nos dêem motivos, embora até o momento motivos não nos faltem e aumentam a cada dia.
As páginas políticas dos jornais e revistas se confundem com as páginas policiais e é como bandidos ou cúmplices que querem ser lembrados no futuro? Não cabe a nós mudarmos o futuro, mas vossas excelências, eleitas para nos representar. Pois representem, mas com a conduta que desejamos e não com a que têm nos mostrado.
©Marcos Pontes

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