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sábado, janeiro 03, 2009

Che era um matador, diz intelectual cubano exilado

Lúcia Jardim
Direto de Paris


Faz 45 anos que Jacobo Machover saiu de Cuba com a família e nunca mais pôde voltar. Ao perceber o "caminho sem volta" em que o sonho socialista entrava, seu pai, que trabalhava como tradutor para Che Guevara, decidiu levar a mulher e os filhos para a França. No país europeu, o ex-admirador do mítico personagem da Revolução Cubana tornou-se um respeitado intelectual sobre o seu país de origem e uma das vozes mais ativas contra o regime castrista entre os exilados cubanos no exterior.
» Regime castrista divide cubanos exilados» Infográfico: 50 anos da Revolução Cubana
Hoje, Machover tem seus próprios filhos em Paris e divide seu tempo entre as atividades de escritor - já são seis livros só sobre Cuba -, professor da Universidade Paris XII e colaborador para jornais franceses. Às vésperas do 50º aniversário da tomada do poder por Fidel Castro, o intelectual concedeu uma entrevista ao Terra.

Raúl Castro parece querer mostrar que quer reabrir Cuba econômica e culturalmente e já começa a se ouvir em fim da revolução. Você concorda?

Nem uma coisa nem outra são verdadeiras. Faz 50 anos, desde que a revolução começou, que a situação se encontra em um imobilismo absoluto. Faz 50 anos que os dois irmãos estão lá onde eles estiverem sempre, os dois, no poder: Fidel e Raúl. A supressão da dinastia Castro não será uma mudança. Não há nenhum sinal de mudança nem de abertura econômica. O que o Raúl Castro está fazendo é ridículo: não há qualquer abertura real. Ele sequer afirma que vai fazer alguma mudança, é a mídia que interpretou desta forma alguns sinais dele, mas na realidade não há nada de novo. Não é porque se autoriza o uso de celulares que se está abrindo o país economicamente. Não faz nenhum sentido. Eles autorizam a posse de computadores domésticos, mas desde que não tenha Internet. Onde está a liberalização econômica? O mais grave é que nenhuma medida de liberdade não foi tomada. O mais terrível é que todo mundo aceitou a sucessão entre Fidel e Raúl sem sequer questioná-la, e isso foi a coisa mais antidemocrática do mundo! Eu acho inclusive que a recepção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Raúl Castro é uma vergonha para o Brasil e uma vergonha para a democracia.

Qual é o sentimento dos cubanos em relação a tudo isso hoje em dia?

Em Paris, tive dificuldade em encontrar pessoas que se levantassem contra o regime...Eu falo para você sobre o meu sentimento, eu não falo em nome dos cubanos. Mas como você acha que os exilados poderiam ser a favor do regime castrista?

Quem você encontrou são associações "oficiais", são ligadas ao governo, mas não dizem isso abertamente. Como você gostaria de encontrar, entre os 2 ou 3 milhões de exilados cubanos que há no mundo, um único que possa estar de acordo com o regime castrista?

Existe uma unanimidade, no exílio, de considerar que o regime castrista é o responsável de todas as nossas tristezas, assim como as tantas que continuam lá. O exílio não é nada divertido: para alguns entre nós, faz 50 anos que estamos fora do nosso país. Em todo os regimes ditatoriais, sempre haverá pessoas que se dizem de associações não-governamentais mas que na verdade estão sob o controle do regime. E essas pessoas e associações que você encontrou, são deste tipo. Os anti-castristas, especialmente os intelectuais, não são particularmente ligados a associações, o que não os impede de mostrar as suas palavras de condenação do sistema. Por exemplo, durante vários anos, em todas as terças-feiras, havia manifestações anti-castristas em frente a diversas embaixadas cubanas ao redor do mundo.

Qual é a herança desta revolução, não apenas para Cuba, mas também para a esquerda?

A sua questão é um pouco orientada. Quando falamos em herança, falamos de algo a dar para o outro. Neste caso, são sobretudo dívidas. A esquerda falhou em toda a América Latina, face à Revolução Cubana. A esquerda tem responsabilidades moral na mais longa ditadura pessoal do século XX. A esquerda tem uma responsabilidade enorme na propaganda em favor do castrismo. O castrismo é o regime que, por muito tempo, promoveu a guerrilha na América Latina. Existem muitas pessoas jovens que morreram em nome disso, ou então que mataram outras tantas pessoas que eram contrárias a este regime. Por muitos anos, o regime trouxe uma instabilidade crônica na América Latina, e a herança mais visível se encontra em regiões caricatas, como a Venezuela de Hugo Chávez e todos os outros que estão em torno dele, como Rafael Corrêa, Daniel Ortega e Evo Morales. Aliás, não se pode falar em "a" esquerda na América Latina, porque são diversas. Pelo menos o Hugo Chávez não pode ser considerado de esquerda. É um déspota sem nenhuma legitimidade democrática, ele não é partidário da democracia. Ele criou artimanhas para se perpetuar no poder e continua demonstrando que não é um partidário da democracia, querendo se eleger até o fim da vida. Ortega também não é um democrata, e Evo Morales é extremamente discutível. Digamos que estes três, os mais radicais, são a encarnação do populismo mais caricato. Em geral, todas os governos de esquerda da América do Sul têm uma admiração pelo regime castrista. Mas temos também uma outra esquerda muito mais apresentável. Tem apenas um, o presidente da Costa Rica, que é um homem de esquerda e reprova o que é feito em Cuba. Ele em nenhum momento deixou de fazer as críticas mais duras ao regime castrista, mas infelizmente não se ouve falar muito dele.

Onde entra o Brasil nesta herança do castrismo?

No Brasil, Lula, que é um antigo sindicalista, foi eleito em absoluta legitimidade. Eu lamento que um dos pontos mais negativos da sua presidência, e isso ele vai guardar para sempre com ele, é o seu apoio ao regime castrista. Não é o mesmo que Chávez: Chávez e o castrismo são praticamente a mesma coisa. Lula e o castrismo, não. Lula é um admirador dos irmãos Castro e se recusou a receber e a falar com dissidentes. É algo que ele vai guardar na sua consciência.

Que futuro você vê para Cuba após a morte dos irmãos Castro?

Pouco importa o fato de eles estarem mortos ou não. A única coisa positiva depois de 31 de julho de 2006, quando Fidel Castro passou "provisoriamente" o poder ao seu irmão, é que desde então a gente não o vê mais. Ele desapareceu, e o povo cubano em seu conjunto, no interior quanto no exterior do país, se livrou dele e da sua figura onipresente. Isso é um alívio extraordinário. É um alívio não mais ter de vê-lo constantemente em imagens, em palavras, e tudo mais. Ele não está morto oficialmente, mas ele é moribundo, é um personagem que não se vê mais, há meses e meses. Qual é o seu estado real? Ninguém sabe! Tudo é uma mentira sobre o seu estado de saúde, que fica em segredo. Ninguém, hoje, pode afirmar nem que ele está morto, nem que está vivo. Então, falar sobre o que vai acontecer após a morte dele é um erro. Para a maioria do povo cubano, ele está morto politicamente. Eu considero que não é a morte física que faz a morte de um homem: é a morte política. E ele está morto politicamente. Hoje, o verdadeiro e único poder em Cuba é Raúl, no entanto ele está já no poder há 50 anos. Os irmãos Castro sempre foram indissociáveis. Raúl não é menos que Fidel, Raúl é um enorme assassino. É um homem que mandava fuzilar dezenas de pessoas em uma única jornada desde o primeiro dia da tomada do poder, e desde então nunca mais parou, faz 50 anos. É uma pessoa profundamente ligada ao exército e aos aparelhos de repressão durante todos estes anos. Sobre o dia em que os dois irmãos estarão mortos, eu não sou muito otimista. E por uma razão: sempre houve gente para apoiar este tipo de miragem que foi a Revolução Cubana, mas que na verdade é, sem nenhuma dúvida, o regime mais repressivo que já existiu na América Latina.

Até hoje ainda é muito comum, sobretudo na juventude, o apoio à Revolução. Como você explica?

É graças ao mito Che Guevara, que foi um dos maiores assassinos desta Revolução. Eu escrevi um livro, que se chama "A Face Escondida do Che", onde há uma série de testemunhos de pessoas que passaram diante dele. O Che dirigiu centenas de execuções em Cuba. Era um matador. Eu não consigo compreender como tanta gente caiu no discurso deles todos. Eu tento, então, contar a verdade. Escrevi um outro livro, Memórias de um naufrágio, que vai ser publicado justamente agora, em função do 50º aniversário. São mais testemunhos de pessoas que foram reprimidas em Cuba e que passaram 20 ou 40 anos presos apenas por discordarem do sistema. Outros são pessoas que tiveram de suportar e que sobreviveram aos massacres que aconteceram em Cuba.

Como você fez para recolher os testemunhos?
Voltou a Cuba?

Não, lá é impossível. Lá, não se pode fazer algo assim. São pessoas exiladas, como eu, que fui conhecendo ao longo destes anos.

Enquanto cubano, como você se sente ao perceber que a situação não muda no seu país, depois de tantos anos?

Não tenho mais nenhuma nostalgia. Eu lamento não ter mais família em Cuba, mas ao mesmo tempo é isso que me permite de me exprimir em total liberdade, senão poderia haver pressões sobre a minha família, e tal. Minha família, hoje, vive toda aqui. Não sinto a menor nostalgia, e não é isso que me determina a agir. Prefiro viver sem pátria porque, como diz um outro pensador nacional, "sem pátria, sem dono".

Você pensa que Barack Obama na presidência dos Estados Unidos pode influenciar em alguma mudança na ilha? Quem pode ter alguma esperança?

É totalmente irracional pensar que pode haver alguma mudança com o Obama. Não faz nenhum sentido, e ele nem promete nada. A única coisa que ele poderia dialogar com Raúl Castro - mas duvido que Raúl Castro tenha interesse em dialogar - é de trocar os prisioneiros políticos que estão em Cuba com os cubanos que estão presos nos Estados Unidos, acusados de espionagem, sugestão que Raúl apresentou no Brasil recentemente. E isso não faz o menor sentido, os próprios dissidentes cubanos recusam a idéia dessa troca. São dissidentes pacíficos que foram condenados a até 28 anos de prisão e por simples delito de opinião. Os cubanos que estão presos nos Estados Unidos são pessoas que se infiltraram em organizações com o trabalho de espionar. Não são combatentes pela liberdade, são agentes do governo. Os dissidentes pacíficos que estão presos em Cuba estão lá graças à lei de Cuba, que é terrível e condena a liberdade de expressão. Nos Estados Unidos, não são as leis que é preciso mudar. Essa troca seria reconhecer que a lei cubana é aceitável, mas ela é inaceitável. Não podemos condenar pessoas por terem exercido o seu direito de liberdade de expressão. É preciso liberá-los sem contrapartida. Não creio que Obama entraria neste tipo de jogo. Acho que ele é um pouco inteligente e terá em mente a realidade de o que significa dialogar com Raúl Castro, que é um grande ditador. Acho que os Estados Unidos, não importa sob qual presidência, são uma grande democracia. E uma grande democracia não deve aceitar a chantagem da tirania de uma dinastia.

Texto enviado pelo NACIONALISTA.BLOGSPOT.COM

Um comentário:

  1. Fernando, vc como publicitario sabe mais do que ninguém o quanto foi eficiente a propaganda das esquerdas em torno da revolução cubana, venderam a imagem do Che como se ele fosse um revolucionario do bem e isso tornou a sua imagem símbolo de mudanças e de rebeldia.
    Infelizmente muitos jovens alienadinhos e "rebeldes" de hoje ainda insistem em idolatrar esse bandido asasino.
    Mas a história sempre mostra verdade por mais que tentem esconde~la.
    Em pensar que nos dias de hoje ainda existem pessoas que acreditam no ideal da revolução cubana é de dar dó.
    Jé existem diversas publicações contando o outro lado dessa história.

    Abç

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